A tensão entre Estados Unidos, Dinamarca e Groenlândia ganhou novos contornos após o presidente Donald Trump afirmar que os EUA “precisam” da ilha. A declaração, feita em entrevista ao podcaster Vince Coglianese, representa uma escalada na polêmica questão sobre o interesse americano no território autônomo dinamarquês.

Foto: Christian Klindt Soelbeck/Ritzau Scanpix/via REUTERS
Poucos dias antes da visita do vice-presidente J.D. Vance à base militar americana na ilha, Trump endureceu o discurso. “Odeio colocar dessa forma, mas temos que ficar com ela”, afirmou. A declaração gerou rechaço imediata de autoridades da Dinamarca e da Groenlândia, que veem a movimentação como uma interferência externa indevida.
Interesse estratégico e histórico
Localizada no ártico e coberta em 80% por gelo, a Groenlândia possui apenas 57 mil habitantes, mas é rica em hidrocarbonetos e minerais considerados essenciais para a transição energética global. Desde 1951, os EUA mantêm uma base militar na ilha, fruto de um acordo com a Dinamarca no contexto da Guerra Fria.
A ideia de incorporação da Groenlândia aos EUA não é nova. Em 1946, o então presidente Harry Truman ofereceu US$ 100 milhões em ouro pelo território, mas teve a proposta rejeitada. Durante seu primeiro mandato, Trump retomou o interesse e chegou a sugerir publicamente uma compra, sendo duramente criticado por líderes groenlandeses.
Motivações de Trump
Trump argumenta que a presença americana na região é fundamental para a segurança internacional. A ilha, segundo ele, poderia servir como uma plataforma para monitorar ameaças vindas da Rússia e da Europa. O presidente também destaca o potencial econômico dos recursos naturais locais, embora a exploração de petróleo e gás seja proibida por questões ambientais.
Apesar das pressões, a população groenlandesa rejeita amplamente qualquer possibilidade de incorporação aos Estados Unidos. Uma pesquisa recente indicou que apenas 6% dos habitantes apoiam a idéia. Para especialistas, a ilha pode caminhar para uma independência da Dinamarca no futuro, mas dificilmente aceitaria se tornar um território americano.
Visita polêmica e protestos
A visita de J.D. Vance à Groenlândia elevou ainda mais as tensões diplomáticas. A primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, classificou a iniciativa como “pressão inaceitável”, enquanto o primeiro-ministro groenlandês, Mute Egede, recusou-se a receber a delegação americana, chamando a visita de “interferência estrangeira”.
Diante das críticas e de protestos locais, os EUA optaram por restringir a visita da delegação à base militar de Pituffik, sem interação com a população. Moradores da ilha se organizaram contra a presença americana, exibindo cartazes com mensagens como “Não estamos à venda” e bonés com a frase “Make America Go Away” (“Façam a América Ir Embora”).
O episódio reforça o distanciamento entre Washington e Copenhague, enquanto a Groenlândia reafirma sua autonomia e rejeita qualquer intenção de se tornar uma peça no tabuleiro geopolítico americano.
Com informações do G1.