A Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo, anunciou nesta segunda-feira (28) a expulsão de 12 estudantes do curso de medicina por envolvimento em um episódio que gerou forte repercussão: a exibição de uma faixa com frase de conotação sexual e violenta durante um evento esportivo universitário. A frase “entra porra, escorre sangue” remete a estupro e fazia parte de um antigo “hino” da atlética da instituição, já banido em 2017.

Foto: Divulgação.
Além dos desligamentos, outros 11 alunos foram punidos com sanções disciplinares, incluindo suspensões. A instituição informou ainda que a Associação Atlética Acadêmica permanece interditada por tempo indeterminado.
As penalidades foram aplicadas após sindicâncias internas iniciadas em 21 de março, seis dias após o evento em que os estudantes foram fotografados ao lado da faixa, erguida após uma partida de handebol masculino contra a Uninove.
Em nota oficial, a faculdade reforçou seu compromisso com os princípios éticos, morais e legais, além da dignidade acadêmica e social, afirmando manter postura colaborativa diante das autoridades. A instituição também notificou o Ministério Público e colabora com as investigações da Polícia Civil, que apura o caso desde março.
O episódio gerou indignação entre alunas e ex-alunas. O Coletivo Francisca, grupo feminista formado dentro da faculdade, formalizou denúncia à direção da instituição. No documento, o grupo classificou a faixa como apologia ao estupro e cobrou punições exemplares aos envolvidos.
O “hino” citado na faixa já havia sido proibido há oito anos, após denúncias sobre conteúdo machista, sexual e ofensivo, incluindo frases como “arrancando seu cabaço” e “somos todos loucos e seu c* vamos comer”. Segundo o coletivo, sua reaparição revela a persistência de uma cultura misógina no ambiente acadêmico da medicina.
“Estamos cansadas dessa cultura do estupro dentro das faculdades de medicina”, afirmou uma ex-aluna que preferiu não se identificar. Ela relatou que, apesar dos avanços obtidos com a atuação do coletivo, práticas abusivas e trotes degradantes ainda são comuns, especialmente em atléticas.
A faculdade ressaltou que, embora o episódio tenha ocorrido fora de suas dependências, as sanções seguem o regimento interno e o compromisso formal assumido pelos alunos no ato da matrícula. Entre as punições previstas estão advertências, suspensão e expulsão.
Casos semelhantes vêm sendo registrados em outras instituições. Em 2023, cinco alunos de medicina da Universidade Santo Amaro (Unisa) também foram expulsos após a divulgação de um “hino” com teor sexual explícito durante um campeonato esportivo.
A repressão a comportamentos abusivos em ambientes universitários encontra respaldo na Lei Estadual nº 18.013/2024, que proíbe trotes humilhantes, agressivos ou discriminatórios, e obriga as instituições a adotarem medidas disciplinares mesmo quando os atos ocorrem fora do campus.
O Coletivo Francisca encerra sua denúncia pedindo uma resposta firme da faculdade, com o afastamento de lideranças da atlética envolvidas no caso e medidas eficazes para impedir a normalização da violência simbólica contra mulheres no meio universitário.
Com informações do G1.