A Polícia Civil de São Paulo identificou que Emilio Carlos Gongorra Castilho, conhecido como “Cigarreira” e apontado como o principal mandante da execução do delator Vinicius Gritzbach, investiu R$ 900 mil na produção de um documentário que, segundo relatório do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), serve de propaganda para o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV).

Foto: Divulgação.
O filme O Grito – Regime Disciplinar Diferenciado, lançado em setembro de 2024 e atualmente disponível na plataforma Netflix, foi produzido pela K2 Produções, empresa de propriedade de “Cigarreira”, e aborda o sistema carcerário brasileiro sob a ótica de familiares de presos. De acordo com a investigação, o conteúdo enaltece as figuras de Marco Willians Herbas Camacho, o “Marcola” (PCC), e Márcio dos Santos Nepomuceno, o “Marcinho VP” (CV), ambos detidos em presídios federais.
Castilho é investigado por ordenar a morte de Gritzbach, morto a tiros de fuzil em novembro de 2024 no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. O crime, registrado por câmeras de segurança, teria sido motivado por vingança: o delator havia desfalcado financeiramente membros das facções, ordenado execuções internas e colaborado com a Justiça, expondo a ligação de dezenas de policiais militares com o crime organizado.
Segundo a polícia, dias antes da execução, “Cigarreira” deixou São Paulo em um avião particular rumo ao Rio de Janeiro, onde comemorou o assassinato com uma festa em uma comunidade controlada pelo CV. Foragido da Justiça, o suspeito é conhecido por transitar com facilidade entre os dois maiores grupos criminosos do país e, conforme o Ministério Público, teve papel importante em uma breve trégua entre eles.
O diretor do documentário, Rogério Giannetto, confirmou à polícia que recebeu R$ 900 mil da K2 para a produção do longa, que contou com entrevistas de figuras públicas como o ministro do STF Luís Roberto Barroso, a ministra Anielle Franco e o padre Júlio Lancelotti. Em depoimento, Giannetto afirmou que a obra foi idealizada para refletir sobre o sistema prisional e atende à crescente demanda por conteúdo “true crime” em plataformas de streaming.
A Netflix, por sua vez, declarou por meio de nota que O Grito é uma produção licenciada — ou seja, não foi produzida ou financiada pela empresa — e que não teve envolvimento em sua concepção.
As investigações também revelaram que a ONG Pacto Social e Carcerário, que aparece no documentário, foi alvo de uma operação do Ministério Público e da Polícia Civil em janeiro deste ano. Doze integrantes foram presos, acusados de atuar como braço ideológico do PCC, manipulando informações sobre o sistema prisional para sensibilizar a opinião pública e enfraquecer o Estado.
Além de Castilho, Diego dos Santos Amaral, conhecido como “Didi”, também é apontado como mandante do crime. Gritzbach, ex-corretor de imóveis, teria lavado dinheiro para as facções e, posteriormente, se tornado alvo por causa de disputas internas, prejuízos financeiros e delações à Justiça.
Com informações do G1.