Em 2024, Melgaço, localizada no arquipélago do Marajó, no Pará, registrou 228 dias de calor extremo, liderando o ranking nacional. A cidade, que possui o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil, enfrentou temperaturas até 6°C acima das máximas habituais, alcançando picos de 38°C.
Foto: Tarso Sarraf.
A população de aproximadamente 28 mil habitantes, majoritariamente residente em palafitas sem acesso regular a energia elétrica, sofreu com a escassez de água potável devido à seca severa que atingiu a região. Maria Maia, líder comunitária da zona rural, relatou que a água do rio aquecia a ponto de dificultar atividades cotidianas, como lavar as mãos ou utensílios domésticos.
A seca também afetou a subsistência local, baseada na pesca e na agricultura de açaí. Com a diminuição dos níveis dos rios, a pesca tornou-se inviável, forçando os moradores a dependerem de alimentos industrializados provenientes da cidade, elevando os custos de vida.
Além do calor intenso, Melgaço foi impactada por queimadas na região, que contribuíram para a degradação da qualidade do ar e aumento de doenças respiratórias, especialmente entre crianças e idosos. A falta de infraestrutura de saúde adequada agravou a situação, com moradores enfrentando longas viagens de barco para obter atendimento médico em Belém, distante cerca de 16 horas.
Especialistas apontam que as mudanças climáticas, aliadas ao desmatamento e às queimadas, intensificam eventos climáticos extremos na Amazônia. Mauricio Moura, meteorologista da Universidade Federal do Pará, destacou que fenômenos como o El Niño prolongado contribuíram para a redução das chuvas e o aumento das temperaturas na região.
A situação de Melgaço serve como alerta para a vulnerabilidade de comunidades isoladas diante das mudanças climáticas e a necessidade urgente de políticas públicas que promovam infraestrutura básica e medidas de adaptação para mitigar os impactos futuros.
Com informações do iBahia.