Caso Gritzbach escancara aliança de 27 policiais de SP com o PCC e o CV

A execução do empresário Vinicius Gritzbach, em plena luz do dia, no setor de desembarque do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, em novembro de 2024, revelou um escândalo de corrupção policial sem precedentes no estado. Ao menos 27 policiais civis e militares foram identificados com ligações diretas com as facções criminosas Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV). A investigação também apontou vínculos com crimes como homicídio, extorsão e lavagem de dinheiro.

Foto: Divulgação.

As apurações, conduzidas por uma força-tarefa composta pela Polícia Civil, Polícia Federal (PF) e Polícia Militar (PM), resultaram em 33 prisões. Três dos presos são acusados diretamente pela morte de Gritzbach, que havia feito uma delação premiada denunciando o envolvimento de agentes públicos com o crime organizado.

O delator e o crime

Vinicius Gritzbach era empresário do setor imobiliário e delator de um esquema de lavagem de dinheiro que movimentava cifras milionárias em imóveis e criptomoedas. Ele confessou ter intermediado operações financeiras para o PCC e o CV e implicou policiais civis em extorsões e favorecimentos. Segundo ele, policiais cobraram até R$ 40 milhões para não envolvê-lo em assassinatos de membros do PCC.

A morte de Gritzbach foi filmada por câmeras de segurança. Ele foi emboscado por criminosos armados com fuzis, e ao menos três policiais militares participaram diretamente da execução, segundo o inquérito da Polícia Civil.

Investigação dividida em três frentes

1. Homicídio e mandantes

O Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) concluiu que o crime foi ordenado pelos traficantes Emilio Carlos Gongorra Castilho, conhecido como “Cigarreira”, e Diego dos Santos Amaral, o “Didi”. Ambos estão foragidos e seriam ligados ao PCC e ao CV. Eles teriam mandado matar Gritzbach após prejuízos financeiros e como vingança por mortes de integrantes das facções.

Participaram da execução o cabo Denis Antonio Martins, o soldado Ruan Silva Rodrigues e o tenente Fernando Genauro da Silva, todos da PM. Eles estão presos. Um quarto participante, Kauê do Amaral Coelho, o “Jubi”, atuou como olheiro e está foragido.

2. Corrupção na Polícia Civil

As denúncias feitas por Gritzbach à Polícia Federal levaram à abertura de investigações contra ao menos nove policiais civis. Entre os alvos, estão o delegado Fabio Baena Martins e investigadores ligados a ele. Eles são acusados de extorsão, lavagem de dinheiro e associação com o PCC. Parte dos recursos teria sido ocultada por meio de instituições financeiras como a 2GO Bank e a Invbank.

Também foram presos o advogado Ahmed Hassan Saleh e os empresários Ademir de Andrade e Robinson Moura. A empresária Danielle Bezerra dos Santos, esposa de um dos policiais, está foragida.

3. Escolta ilegal e conivência de PMs

Ao menos 15 policiais militares foram presos por atuarem ilegalmente na segurança particular de Gritzbach, desrespeitando regras internas da corporação que proíbem o “bico” para indivíduos com histórico criminal. Segundo a PM, parte desses agentes também colaborava com o crime organizado, informando sobre operações e enfraquecendo a escolta do delator no dia do crime.

Os policiais foram denunciados por organização criminosa armada e falsidade ideológica.

Especialistas apontam falência institucional

Para o promotor Lincoln Gakiya, do Ministério Público de São Paulo, o caso Gritzbach não só confirmou como comprovou a ligação entre policiais e o crime organizado. “Entre saber e conseguir provas, há um abismo. O que ele [Gritzbach] trouxe foi prova material”, declarou ao g1.

Gakiya afirma que o PCC se estruturou como uma máfia e passou a infiltrar agentes públicos para garantir proteção e poder. Já o coronel e pesquisador Adilson Paes de Souza classifica o cenário como reflexo da falência do sistema de controle das forças de segurança. “Temos uma polícia avessa ao controle social, o que permite esse tipo de infiltração”, afirma.

Bruno Langeani, gerente do Instituto Sou da Paz, disse que este é o caso mais grave desde a Favela Naval, em 1997. “Mesmo diante da gravidade, não houve reformas estruturais na polícia à altura do escândalo”, avaliou.

O que diz o Estado

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou que não compactua com desvios e destacou a atuação das corregedorias. “As forças de segurança do Estado são instituições legalistas. No caso citado, 17 PMs foram identificados e presos graças à atuação da Corregedoria”, declarou.

Já os advogados dos policiais acusados negam envolvimento dos clientes e apontam inconsistências nas provas apresentadas pela acusação. A defesa do delegado Baena afirmou que a denúncia é “lastreada apenas nas elucubrações de um criminoso confesso”. Os advogados dos PMs presos disseram que seus clientes não estavam no local do crime e irão apresentar contraprovas.

Com informações do G1.

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