O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou nesta quarta-feira (27) que a assinatura do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE) pode ocorrer ainda em 2024. Em meio a tensões com a França, que inclui um boicote aos produtos sul-americanos pelo Carrefour e críticas de parlamentares europeus à carne bovina brasileira, Lula reafirmou sua determinação em seguir com o tratado, destacando que a assinatura será feita diretamente pela Comissão Europeia.
“Vamos fazer o acordo do Mercosul, não tanto pela questão financeira, mas porque estou há 22 anos nesse processo e vamos concluir. O agronegócio vai continuar crescendo e causando raiva aos deputados franceses que atacam os produtos brasileiros”, afirmou o presidente, reforçando a continuidade das negociações, que começaram em 1999 e aguardam a ratificação dos parlamentos dos dois blocos.
Lula criticou fortemente o protecionismo europeu, especialmente por parte da França, onde os produtores agrícolas têm pressionado por restrições. “Se os franceses não quiserem o acordo, eles não apitam mais nada. Quem apita é a Comissão Europeia. E Ursula von der Leyen tem procuração para fazer esse acordo, e eu pretendo assiná-lo ainda este ano”, completou, durante sua participação no Encontro Nacional da Indústria, em Brasília.
O posicionamento de Lula ocorre após a Assembleia Nacional da França rejeitar o acordo e levantar preocupações sobre a carne brasileira, acusando-a de não atender aos padrões sanitários e de rastreabilidade. O deputado francês Vincent Trébuchet chegou a afirmar que os produtos brasileiros não pertencem à mesa dos consumidores franceses.
Além disso, a polêmica envolvendo o Carrefour ganhou destaque. O presidente da rede na França, Alexandre Bompard, afirmou que a carne produzida no Brasil não respeita as normas francesas e prometeu não mais vender produtos do Mercosul em seus mercados. Contudo, em uma reviravolta, Bompard pediu desculpas e elogiou a qualidade da carne brasileira, destacando que a rede já adquire a maior parte de seus produtos de produtores franceses.
A expectativa agora se volta para a Cúpula do Mercosul, que ocorrerá nos dias 5 e 6 de dezembro, em Montevidéu, no Uruguai, onde o tratado entre os dois blocos poderá ser oficialmente anunciado. Lula confirmou sua participação no evento, onde serão discutidos temas como serviços, compras públicas, facilitação de comércio, medidas sanitárias e propriedade intelectual.
Expandindo o comércio internacional
Durante seu discurso no Encontro Nacional da Indústria, o presidente também afirmou que o Brasil está focado em diversificar seu comércio exterior, buscando novas parcerias com mercados emergentes. “O acordo com a China é o mais importante que o país já fez, abrindo portas para novas tecnologias, como inteligência artificial e tecnologia espacial”, destacou.
Além disso, Lula anunciou planos de ampliar a presença brasileira na Índia, enfatizando o potencial de mercados em ascensão: “Queremos levar a indústria brasileira para esses mercados, fazer parcerias com a indústria de inovação e mostrar que o Brasil pode dar certo como um país grande, e não pequeno”, concluiu.