Em seus primeiros 100 dias de segundo mandato, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, consolidou uma gestão marcada pelo autoritarismo, decisões polêmicas e constantes rupturas institucionais. Longe de uma condução estável, seu governo mergulhou o país em um turbilhão de conflitos internos e externos, fazendo crescer o descontentamento popular e o número de ações judiciais contra suas medidas.
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Trump chega à simbólica marca com um recorde: já assinou 220 ordens executivas — uma média de mais de duas por dia —, o maior número da história americana no mesmo período de tempo. Enquanto se prepara para comemorar a data com um comício, a popularidade do presidente segue em queda livre. Pesquisas recentes apontam índices de aprovação entre 39% e 41%, os mais baixos registrados para um presidente em início de mandato nas últimas sete décadas.
A rejeição à condução do país é alimentada por diversos fatores. Entre eles, a postura beligerante de Trump no cenário econômico internacional, com tarifas e ameaças que geraram instabilidade nos mercados. A prometida guerra comercial, que visava fortalecer a indústria americana, causou efeitos opostos: alta de preços, queda na confiança dos investidores e desaceleração da economia. Diante das críticas, Trump chegou a recuar, mas a incerteza já estava semeada.
Outro ponto que inflamou a opinião pública foi a radicalização das políticas migratórias. O presidente intensificou a perseguição a imigrantes indocumentados, promoveu deportações em massa — muitas vezes desrespeitando o devido processo legal — e chegou a ameaçar expulsar até cidadãos americanos sob suspeitas infundadas. Imigrantes de outras nacionalidades foram enviados a países como El Salvador, mesmo sem qualquer vínculo formal com essas nações.
A ofensiva autoritária também atingiu as instituições culturais e educacionais. Trump cortou verbas de universidades e museus que se recusaram a se alinhar ideologicamente com o governo, ferindo a autonomia dessas entidades. No campo internacional, causou tensão ao interferir na soberania de nações aliadas como o Panamá e o Canadá, e chegou a ameaçar a anexação forçada da Groenlândia, em uma medida sem precedentes no século XXI.
Na arena doméstica, perseguiu adversários políticos e promoveu um expurgo no Departamento de Justiça, demitindo investigadores e promotores envolvidos em processos contra ele. Logo no primeiro dia de governo, perdoou manifestantes envolvidos na invasão violenta ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, inclusive aqueles já condenados por crimes graves.
Até o momento, os tribunais emitiram ao menos 120 decisões bloqueando medidas de sua administração, apontadas como inconstitucionais. Ainda assim, Trump tem desafiado decisões judiciais e ridicularizado juízes, em um embate aberto com o sistema legal americano. Em entrevista recente à revista The Atlantic, ele chegou a declarar: “Eu governo o país e o mundo”, reforçando sua postura de centralização e poder absoluto.
Analistas políticos apontam que apenas 7% do segundo mandato já foi suficiente para gerar um rastro de instabilidade institucional e polarização social ainda mais acentuada. A postura vingativa e o discurso voltado à base mais radical do Partido Republicano afastaram aliados históricos e colocaram os Estados Unidos sob um clima de constante tensão.
Apesar do controle aparente, a reação popular e institucional começa a tomar corpo. Bloqueios judiciais, manifestações em diversas cidades e a erosão acelerada da aprovação popular são sinais de que a gestão Trump pode enfrentar resistência crescente nos próximos meses. Ignorar esses alertas, alertam especialistas, pode levar a um isolamento político que minaria as ambições do presidente — e da própria democracia americana.
Com informações do G1.